As companhias do setor tecnológico nos EUA são algumas das mais reconhecidas e influentes do mundo. Nesta coluna revisaremos qual foi seu comportamento durante este ano através do índice Nasdaq e quais forças vale a pena revisar.
A Nasdaq é uma bolsa de valores que agrupa ações de tecnologia, informática, telecomunicações e biotecnologia entre outras, o que a torna uma referência para acompanhar as companhias especializadas nestes setores. Uma ferramenta particularmente útil para fazer este acompanhamento é o índice Nasdaq 100, que agrupa as 100 ações de maior valorização neste mercado e cujo comportamento do último ano pode ser visto a seguir no gráfico 1.
Gráfico 1. Elaboração própria. Dados Bloomberg
Mesmo a tendência para os últimos doze meses seja crescente -iniciando em um nível ao redor de 10.400 unidades e chegando cerca dos 14.500, o que representa uma rentabilidade anual de 38,3%- este crescimento não foi visto tão claramente durante o primeiro trimestre de 2021 (depois da linha pontilhada vermelha). No entanto, a partir de maio volta a tomar força e permite manter uma rentabilidade durante o ano de 2021 de 13,80%, muito similar ao mesmo período de janeiro a julho de 2020, que marcou 14,75%.
Quais empresas impulsionaram o índice em 2021?
Quando queremos entender o comportamento de um índice, o que devemos fazer é revisar sua cesta e entender quais são essas ações que o estão impulsando. Para a Nasdaq, esta variação durante este ano está explicada em 47% por dez companhias. Deste grupo, três são as mais representativas: Nvidia, Google e Amazon, que cresceram 57%, 47% y 11% respectivamente, entre 1° de janeiro e 6 de julho.
Um detalhe importante a ter em consideração em relação ao Google, é que suas ações classe A e C estão no índice, o que faz que como emissor seja o que mais representou a variação durante o ano, com 293.4 pontos. Uma ação classe A é aquela que tem direitos políticos, ou seja, de voto, enquanto as ações classe C não têm este beneficio; no entanto, ambas têm direito ao pagamento de dividendos.
Gráfico 2. Elaboração própria. Dados Bloomberg
Para vermos um pouco da percepção do mercado sobre estes títulos, o gráfico 2 mostra a porcentagem dos analistas entrevistados pela Bloomberg no dia 6 de julho, que recomendam comprar as dez ações que lideraram o crescimento do Nasdaq 100. Não é de surpreender então que as três companhias que mostraram os maiores registros são precisamente as três que mais contribuíram com o crescimento do índice durante o ano.
- Amazon.
A gigante do comércio eletrônico é sem dúvida uma das companhias que mais se beneficiaram durante a pandemia; seu modelo de negócio estava particularmente projetado para as necessidades de consumo em momentos onde o fechamento do comércio afetou a forma normal de adquirir bens e serviços. De acordo com dados publicados pela Investing.com, o segundo trimestre de 2020 apresentou uma grande surpresa positiva para a Amazon, ao obter um Ganho por ação (GPA) de US$10,3 diante do esperado de US$1,48. Esta tendência continuou mostrando maiores ganhos do que o esperado pelo mercado para 2020 e 2021, onde as GPA esperadas foram de US$9,54 contra US$15,79.
Mesmo o comércio eletrônico e o serviço de streaming Amazon Prime sendo talvez dois de suas linhas de negócio mais reconhecidas, os investidores estão muito concentrados em outro aspecto: o de armazenagem e aplicações na nuvem. A expectativa cresce ao redor do projeto JEDI do departamento de defesa dos EUA, que a princípio ia ser para a Microsoft, mas depois quis incluir a Amazon e outros fornecedores. O contrato original estava pausado, diante da demanda da companhia de Jeff Bezos que alegava pressões indevidas do ex-presidente Trump sobre os militares para desfavorecê-los.
- Alphabet (Google).
Grande parte da renda da Alphabet é derivada da publicidade, e no segmento o que mais tem contribuído é o YouTube, que assim como a Amazon, oferece um tipo de produto (conteúdo audiovisual por streaming) altamente demandado durante as medidas de restrição da pandemia. A companhia manteve GPA superiores ao esperado nos último 4 trimestres, onde no primeiro deste ano a expectativa era de US$15,76 e o resultado foi de US$26,29.
Alphabet conseguiu capitalizar recentemente a redução nas expectativas da inflação nos EUA e junto com as outras ações tecnológicas se beneficiaram do acelerado impulso que estava tendo a reabertura de setores econômicos no país; no entanto, enfrenta problemas pelas demandas antimonopólio também nos EUA.
- Nvidia.
É uma companhia que se concentra em unidades de processamento gráfico e Inteligência Artificial. Tem duas fortes linhas de negócio: unidades de processamento gráficos focados em usuários especializados e o processador Tegra para dispositivos móveis, robôs e drones, entre outros. Depois dos ganhos obtidos pela IA nos os últimos anos, o fabricante de chips propôs dividir as ações em quatro partes, dando aos investidores três ações adicionais por cada uma que já possuíam atualmente.
Apesar de estar numa das linhas de produtos que se beneficiaram pela pandemia em termos de aumento de demanda de PCs, é uma companhia que mesmo mostrando maiores GPA do que o esperado, não teve tanto sucesso como a Amazon e a Alphabet. Para o primeiro trimestre de 2021, o mercado esperava US$3,29 por ação e a companhia reportou US$3,66. No entanto, o preço de sua ação mostra outra história desde 2016 com um claro interesse dos investidores; cresceu de US$20 a US$800 e somente durante 2021 já registrou 57% de rentabilidade.
Os semicondutores, um fator a ter em consideração
Algo sobre o que já comentamos em colunas e SupraWebinars anteriores e que com certeza seguirá estando no centro da atenção dos analistas são os semicondutores e como está crescendo um gargalo entre sua produção e demanda. A razão da importância dos semicondutores é sua utilização na construção de chips e em como são utilizados em um leque cada vez mais amplo de setores que vai desde computadores, até a automotriz, passando, claro, pelos celulares.
De acordo com portal icinsights.com, do total de vendas projetadas no final de 2020, ao redor de 59% estão concentradas em 3 companhias: Intel dos EUA com 24,27%, Samsung 19,87% e TSMC de Taiwan 14,92%. Destas companhias, Intel produz para cobrir suas necessidades próprias, o que faz com que Samsung e TSMC concentrem muito da produção de projetos relizados por outras companhias como Apple e Ford, que não produzem seus próprios chips.
Como se fosse pouco, ao gargalo derivado da alta concentração na produção temos que somar outro fator crucial que entra em jogo: o efeito geopolítico das tensões entre EUA e China pelo status político de Taiwan, considerada pelo governo chinês como uma província rebelde. Qualquer desenvolvimento nesta frente poderia afetar eventualmente TSMC e reduzir ainda mais a produção de semicondutores, o que desencadearia um forte impacto nas vendas e utilidades das empresas do setor tecnológico.
Em conclusão, tal como foi visto no ano anterior, o setor tecnológico continua sendo um direcionador importante de dinamismo no mercado de ações dos EUA. No entanto, não está carente de riscos; seja do ponto de vista das cadeias de produção seja pela constante mudança das dinâmicas em um 2021 que ainda não mostra tendências claras em termos de consumo e trabalho remoto.