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Completando o exercício que fizemos na coluna anterior, não podemos chegar a dezembro sem falar das expectativas para o próximo ano e com a aparição da variante Ômicron do Coronavírus e o nervosismo que foi desatado nos mercados é ainda mais necessário realizar esta análise.

 

Ômicron

Em seu relatório do Panorama Econômico Mundial de outubro o Fundo Monetário Internacional manifestou que sua expectativa de crescimento mundial é de 5,9% para 2021 (ajustado para baixo em 0,1 ponto porcentual em relação ao relatório de julho) que se mantém alinhada com a pesquisa realizada pela Bloomberg de 5,8%. No entanto, a aparição de uma nova variante do Coronavírus denominada Ômicron poderia afetar este número dependendo do impacto sobre a economia que as medidas que os governos tomarem.

 

Gráfico 1. Elaboração própria. Dados Bloomberg

 

Dessa maneira, os governos começaram a controlar o acesso de voos de certos países, além de implementar requisitos mais estritos como a obrigatoriedade de exames tanto na entrada como na saída. Assim, diante deste maior nível de incerteza aumenta o nervosismo nos mercados sendo o do petróleo bruto um dos primeiros afetados diante das expectativas de redução na demanda precisamente por todo este controle nas viagens. Mas esta queda de preços vem de antes devido a que vários governos, entre eles os Estados Unidos e a Índia, já tinham decidido utilizar suas reservas estratégicas de petróleo diante dos preços altos desta commodity e a reticência da OPEP de não aumentar seus aumentos de produção mensais que estão em 400.000 barris por dia.

O gráfico 1 mostra o comportamento do preço da referência do petróleo Brent no último ano, marcando níveis máximos do ano mantendo um nível acima de 80 dólares por barril entre outubro e novembro. No entanto, esta tendência muda com a aparição da nova variante registrando uma queda de 15,5% entre 25 de novembro e 1° de dezembro chegando a 69,49 dólares por barril. Então tanto no final de 2021 como no início de 2022 será muito importante acompanhar de perto a velocidade de propagação desta nova variante, a gravidade dos casos e a efetividade das vacinas para controlá-la já que isso determinará quão severas poderiam ser as medidas dos governos e como podem afetar a economia.

 

O dólar e os emergentes

Não se pode falar da expectativa de 2022 sem falar do dólar tanto em seu comportamento global como diante das moedas da região já que é um sinal muito forte do comportamento do comércio internacional e as expectativas dos investidores. Neste sentido é interessante ver como ao longo do segundo semestre o índice DXY, que compara o Dólar contra uma cesta de moedas desenvolvidas, mostrou uma tendência crescente de um valor de 89,95 a 96,07, equivalente a um crescimento de 6,81%. Quando este índice cresce, expressa um fortalecimento do dólar globalmente, de tal forma que quando se começou a falar da variante Ômicron, caiu de valor máximo do ano de 96,88 em meio a incerteza que este fato trouxe.

 

Gráfico 2. Elaboração própria. Dados Bloomberg

 

No entanto, embora o dólar tenha perdido força com as moedas desenvolvidas, o caso na região foi o contrário devido ao aumento da aversão a risco, o que continuou com a tendência de desvalorização em 2021 todo que se vê no gráfico 2, liderado pela Argentina, que no último ano perdeu 19,39% do valor de sua moeda, seguido pelo Peru e Colômbia com 11,37% e 10,60% respectivamente. Assim, é de se esperar que para 2022 continuemos vendo um dólar forte em relação aos emergentes, enquanto a aversão ao risco continue sendo o fator dominante nos mercados.

 

As expectativas de inflação e os Bancos Centrais

Um componente que tem estado presente ao longo de 2021 são as expectativas de inflação, já que o nível de preços tem aumentado primeiro por um aumento na demanda de bens e serviços até o início do ano e depois por problemas de escassez seja de produtos finais ou componentes de fabricação pelos problemas em cadeias de fornecimento. De acordo com os dados compilados pela Bloomberg em termos globais se espera uma inflação para o fim de 2021 de 3,7% e 2022 de 3,5%, enquanto nos Estados Unidos seriam de 4,5% e 3,7% respectivamente. No entanto, para a América Latina como região o cenário é muito mais extremo esperando um fechamento de 11,9% e em 2022 de 10,6%, o que teria repercussões em seu caminho de recuperação econômica.

Estas tendências levaram os Bancos Centrais a começarem a mudar o foco de suas políticas e se tornem mais Hawkish, aumentando taxas ou revertendo seus programas de compra de ativos. Com Jerome Powell manifestando que o termo transitório deveria ser retirado das análises da inflação nos Estados Unidos.

Então o efeito tanto dos preços como dos aumentos de taxas são forças que, mesmo começando em 2021, se refletirão na demanda em 2022. Por isso será necessário acompanhar muito de perto como o consumo e seu impacto nas diferentes economias se comporta durante o primeiro trimestre do ano.

 

Eleições na região

Um elemento importante para termos em consideração do ponto de vista regional para 2022 são as eleições e as implicações que isso possa ter ao redor da percepção de risco dos países. No caso da Colômbia a disputa eleitoral que será em maio, está em um momento de muito rebuliço, com muitos candidatos iniciando coalizões, mas poucos candidatos claros neste momento, o que claramente contribui para um cenário de incerteza sobre qual tendência política dominará.

Outro mês importante para termos em consideração na região, é outubro quando ocorrerão as eleições gerais no Brasil, com Jair Bolsonaro que, apesar da recente crise em seu gabinete econômico tentará a reeleição, para a qual vai se aliar com o Partido Liberal (PL), e não com o Partido Social Liberal do Brasil (PSL), formação com a qual ele havia apresentado nos comícios presidenciais em 2018. Esta disputa se encontra de novo marcada por uma intensa polarização e tensão, onde a grande pergunta que esperam os eleitores é se o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciará sua candidatura.

 

Gráfico 3. Elaboração própria. Dados Bloomberg

 

Um indicador para acompanharmos de perto no que resta do ano e no começo de 2022 é o CDS ou Credit Default Swap que reflete a parcela que é cobrada no mercado por cobrir o risco de default de bônus de países. No caso do gráfico 3 este comportamento para os CDS relacionados aos títulos de 5 anos onde tanto a Colômbia como o Brasil mostrou uma tendência crescente que os levou não só a chegar a níveis máximos do ano com 215 e 249 pontos básicos respectivamente, mas também a reduzir o spread entre os dois, o que mostra uma maior percepção de risco relativa sobre a Colômbia.

 

2022

Para resumir, as expectativas de 2022 se concentram em uma perda de dinamismo no crescimento econômico diante do que vimos em 2021, mas também o bloqueio da demanda por parte dos consumidores domésticos pelos problemas nas cadeias de fornecimento. Outro elemento a ter em consideração é que a incerteza sobre o Coronavírus especialmente as novas variantes continuarão tendo um forte impacto na percepção de risco dos investimentos o que por sua vez afetará os mercados financeiros aumentando a fortaleza do dólar em relação às moedas emergentes. Finalmente, 2022 será um ano de desafios políticos e econômicos, com eleições a caminho em alguns países e a necessidade dos Bancos Centrais de controlar a inflação que poderão continuar pressionando as taxas de desemprego e o descontentamento social na região.

 

 

Relatório elaborado pela Gandini Analysis para a Supra Brokers apenas como conteúdo e em nenhum caso deve ser considerado como recomendação de investimento.

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