Apesar das aprovações de uso das vacinas Pfizer e Moderna em numerosos países, o início de 2021 ainda mostra uma incerteza grande na economia mundial, associado especialmente à segunda onda da pandemia. E como um dos ativos que mais rápido captura estes efeitos é o mercado de divisas, e as da América Latina em 2020 foram especialmente impactadas. O que acontecerá este ano? É o que vamos revisar agora.
Índices principais
Para poder avaliar o comportamento conjunto Mercado de divisas da América Latina criamos um índice chamado Índice de Moedas Latam (IML), o qual é calculado a partir de uma cesta de divisas da região que inclui: o Real brasileiro, o Peso colombiano, o chileno, o mexicano e o Sol peruano. Todas com o mesmo nível de ponderação. O objetivo deste exercício é poder condensar o comportamento das divisas mais representativas da região e entender qual foi sua relação no conjunto em relação ao dólar no último ano.
Gráfico 1. Elaboração própria. Dados: Bloomberg.
No gráfico 1 comparamos o IML em relação a outro índice muito conhecido chamado DXY que tem uma cesta de divisas de países desenvolvidos em relação ao dólar. No gráfico podemos notar como o DXY mostra uma clara tendência decrescente desde março do ano passado. Ou seja, diante desses países em particular, o dólar perdeu valor com o DXY, variando desde seu nível máximo acima de 100 até se situar ao redor de 90 em janeiro deste ano.
Por outro lado, o comportamento não é tão claro para as divisas de Latam. Mesmo o IML refletindo uma reavaliação diante do dólar desde novembro até janeiro -coincidindo com o anúncio da vacina- também mostra uma importante volatilidade em 2020. Essa volatilidade está entre maio e outubro, quando o IML se manteve num canal lateral entre 108 e 116, o que reflete uma falta de força determinante de compra ou de venda de dólares na região, deixando claro que mesmo existindo algumas tendências gerais é necessário entender que há dinâmicas diferentes em cada país.
2020, moeda a moeda
A seguir veremos outro gráfico que mostra detalhadamente a variação anual das divisas da cesta do índice de Latam.
VARIAÇÃO ANUAL
Gráfico 2. Elaboração própria. Dados: Bloomberg.
Podemos notar como seu comportamento foi na maioria das vezes de desvalorização, liderado principalmente pelo Peso argentino e o Real brasileiro, com 43,03% e 29,43% respectivamente.
No caso da Argentina, esta flutuação corresponde à falta de confiança dos investidores diante das decisões específicas do governo, que estabeleceu regras rígidas dentro do mercado cambiário procurando ironicamente deter a desvalorização de sua moeda. Duas destas medidas são: o limite de quantidade diário e o parking, que é a obrigação de manter um dia os bônus em dólares antes de vendê-los, ainda que valha a pena notar que esta medida tem diminuído desde um prazo inicial de 3 dias. Por outro lado, a desvalorização do Real está mais relacionada com o nível de casos de Covid-19 no Brasil e a gestão geral do governo de Jair Bolsonaro diante da pandemia.
As demais moedas mostraram esta tendência, mas em menor medida, com exceção do peso chileno, que foi o único a se fortalecer 3,57%. Mas mesmo estas cifras falando do ano em sua totalidade, não podemos esquecer que estas moedas marcaram, em alguns casos, máximos históricos. É o exemplo do peso colombiano, que mostrou níveis acima de $4.000 pesos por dólar, impulsionado principalmente por estratégias de flight to quality dos investidores internacionais.
Um componente que sem dúvida afetou a percepção de risco sobre estes países são as expectativas de contração econômica para 2020, as quais, de acordo com o Fundo Monetário Internacional em seu relatório Panorama Econômico Mundial de outubro, mostram uma queda média no crescimento de -8,5% para os países da cesta, com o maior registro para o Peru com -13,9% e o menor para o Brasil com -5,8%.
2021: Expectativas vs. Realidade
O novo ano começou com expectativas de crescimento, mas esperando um fim de ano com um rebote médio de 4,4% – em meio à segunda onda da pandemia e suas novas medidas restritivas- estas estão cada vez mais em dúvida.
Além disso, de todos os fatores relacionados com o crescimento econômico derivados das medidas adotadas pelos governos para enfrentar a pandemia, sem dúvida, componentes particulares de instabilidade política que afetam e poderiam seguir afetando o comportamento de suas divisas. Particularmente há três que parecem muito relevantes são:
- Dólar americano. Os fatos ocorridos recentemente como as manifestações de partidários de Donald Trump que tomaram o congresso nos Estados Unidos deixam uma sensação de instabilidade política e social no país, prestes à posse de Joe Biden, que poderia ter repercussões importantes em seus primeiros 100 dias de governo.
- Peso chileno. Os protestos sociais no Chile chegaram a um plebiscito com 78% dos votos a favor de modificar a constituição, proveniente do regime de Augusto Pinochet. Isto, claro, continuará sendo uma fonte de incertezas, especialmente durante o processo de criação da nova constituição, que será redigida por uma convenção cidadã elegida por votação popular.
- Sol peruano. O Peru viveu um drama presidencial em novembro, com a destituição do presidente Martín Vizcarra por acusações de corrupção e a posterior renúncia do presidente interino Manuel Merino, em apenas 5 dias depois de sua posse.
A América Latina não é uma região fácil de entender já que é extremamente heterogênea e, mesmo sendo grande a tentação de incluir todos os países numa mesma sacola e rotulá-la com “Emergentes Latam”, é necessário ter em consideração que há forcas próprias de cada país que não devem ser ignoradas para podermos avaliar como está sendo o novo ano para suas divisas.
Relatório elaborado por Gandini Análisis para a SupraBrokers apenas como conteúdo e de nenhuma maneira se considera como uma recomendação de investimento.